Textos soltos


"O teu verdadeiro nome

Neste preciso instante, seres em número infinito cruzam o espaço em todas as direcções, com todo o tipo de formas, sensações e percepções distintas, mas inseparavelmente constituídos pela mesma matéria e energia, em diferentes planos de manifestação. Consciente ou inconscientemente, tudo o que fazem visa o bem-estar/felicidade e evitar o sofrimento. Todavia, ao procurarem isto, praticam todo o tipo de acções - mentais, verbais e físicas - e estabelecem entre si todas as interacções possíveis: amam-se, ignoram-se, odeiam-se, protegem-se e destroem-se, temem-se, defendem-se, atacam-se, abraçam-se, exploram-se, devoram-se... E assim vivem e morrem, sempre os mesmos e sempre outros, mudando e trocando constantemente de formas, lugares e funções, pois tudo o que aos outros fazem a si o fazem: quem oprime é oprimido, quem agride é agredido, quem devora é devorado, quem protege é protegido, quem alimenta é alimentado, quem ama é amado. Assim rodopia o mundo no turbilhão da ignorância, do desejo ávido e do ódio, na vertigem do medo e da esperança ilusória de ser feliz a sós e fazendo sofrer.
Mas esse turbilhão febril pode parar. Na sua contemplação. Nisto que agora mesmo acontece. Nesta visão que surge. O seu nome é sabedoria e tem uma manifestação natural: amor-compaixão.
Com sabedoria-amor-compaixão podes estar no mundo sem ser arrastado pelo seu turbilhão. Podes estar no mundo como um médico: livre do sofrimento, embora não indiferente a ele e capaz de o atenuar e suprimir. Partilhando esta visão, sem nada esperar em troca. Levando outros a parar e ver. E a amar tudo o que vêem.
É só a partir daqui que surge espontaneamente uma acção libertadora, para ti e para os outros, inseparáveis de ti. Para o bem de tudo e de todos.
É só a partir daqui que a Vida começa. É a esta Vida que és chamado. Porque Ela é o teu verdadeiro nome."
(Paulo Borges, União Budista Portuguesa)


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