domingo, 21 de novembro de 2010

Ontem, falei de ti ao meu filho...


Enquanto organizava velhas fotografias, ficámos a olhar para esta.
E falei-lhe de ti...
Falei-lhe do beijo que me davas, sempre que chegavas a casa.
Do olhar severo que lançavas aos meus disparates.
Das lágrimas disfarçadas quando te orgulhavas de mim.
Das tuas mãos, enormes.
Da tua voz, sentimental, quando cantavas o teu fado preferido.
Do teu assobio enquanto arranjavas o quintal.
Do teu riso, quando eu insistia para que me ensinasses a fazer "coisas de homens", como tu dizias, e da tua paciência para o fazeres.
Dos nossos passeios, sempre cheios de descobertas.
Das longas conversas que enciumavam a mãe.
Da cumplicidade dos desabafos.
Das tuas festas no meu cabelo.
E enquanto lhe falava de ti, falava-lhe de mim.
E os olhos do meu filho que, ai pai, são iguais aos teus, brilhavam e encantavam-se com este avô que ele não viu, mas que hoje conheceu um pouco mais.
E senti-te perto, tão perto de mim.
Fazes-me falta, pai.

***

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