sábado, 4 de fevereiro de 2012

Das mães e das irmandades

(photo by Cristian Baitg)

A Irmandade das Mães, mete-me confusão.
Talve seja porque o ditado "Parir é dôr, criar é amor.", é, para mim, uma verdade inquestionável. Ou talvez seja porque continuo a saber de filhos abandonados à nascença, neglicenciados pela vida fora em prol do sucesso (?) dos pais; mães divorciadas dos filhos; filhos abusados e violentados com o consentimento silencioso das mães; de filhos preteridos a tantas outras tretas materiais e manutenção de aparências... não sei, se calhar é pela soma de tudo isto, mas a verdade é que me faz confusão.
Lembro-me de ter passado a ser "a Mãe", em vez de ser "Ana", ainda na maternidade. E se por um lado, me encheu de orgulho e felicidade, por outro lado, pareceu-me que dali em diante, a Ana, a minha individualidade, tinha sido anulada e tinha passado a pertencer à Irmandade das Mães. Mesmo percebendo que era mais fácil para a enfermeira tratar-me por mãe, do que lembrar-se do meu nome, não deixei de me sentir desconfortável. 
Quando voltei ao trabalho, foi com muita estranheza que percebi que colegas com quem não tinha qualquer tipo de afinidade (e nem pretendia ter) e que também eram mães, me aceitavam com prontidão no seio da sua irmandade.  Tinha passado, com sucesso, da Liga das Grávidas para a Liga das Mães. E agora, que já pertencia ao clube, havia regras a seguir... sendo que uma delas, era falar sempre dos filhos, exaustivamente e exclusivamente. Mas o que mais me começou a aborrecer foi a maneira com que se referiam à sua condição de mãe: como se isso as colocasse acima das outras mulheres, com um outro estatuto, ou as promovesse a santas, ou a portadoras inequívocas de amor incondicional (devia ser, mas nem sempre é), sei lá eu... Além de que me irritava sobremaneira, a forma como olhavam para as outras mulheres que não eram mães, como se fossem só mulheres por metade, esquecendo-se que muitas vezes, se calhar não o podiam ser ou não queriam ser.
Acabei por me banir a mim mesma (eu até gosto de grupos, não vou é em grupos, se é que me entendem), porque sempre valorizei a minha individualidade e nunca pretendi preencher algum tipo de vazio emocional através de um filho. Pela simples razão de que um filho, é ele também, um ser individual que deve ser encarado com profundo respeito e como tal, não o vejo (de todo) como um prolongamento de mim mesma (no máximo, como a continuação da minha herança genética). E também, porque encaro a maternidade como uma coisa muito séria, uma tarefa diária  e um compromisso que assumi até ao fim dos meus dias; e não como uma simples definição do que eu sou, um carimbo ou um troféu.
Ser mãe não é só dar à luz. Mães, são todas as que as amam, cuidam, protegem, educam os filhos, quer sejam seus ou dos outros, biológicos ou de coração, diferentes ou iguais, perfeitinhos ou tortos. E nunca se cansam de amar.
E nesta Irmandade, dos que nunca se cansam de amar, sinto-me perfeitamente em casa ;)

***

6 comentários:

  1. Isto é tão, mas tão eu! Parece que foi escrito por mim! É que também não concordo em nada com a "irmandade das mães". A maternidade não dá perfeição a ninguém, infelizmente. Quem não presta, continua a não prestar mesmo grávida ou com um bebé nos braços. Tomara que assim não fosse. Mães também matam, burlam, vigarizam. Não tem nada a ver.
    E conheço muitas "mães" que nunca pariram, até conheço homens muito mães...
    Depois há as pessoas como tu, que além de tudo também são mães...
    Só para te dizer que o teu filho tem muita sorte em ter nascido de ti :)

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  2. Coisas de Feltro: Ah, identificaste-te, foi? Eheheheh.
    Sim, concordo contigo quando dizes que quem não presta, continua a não prestar o que é pena, porque ter um filho, é uma excelente "oportunidade" de renascimento pessoal...enfim (suspiro). Falas dos pais-mães, o que também é uma grande verdade. Cada vez os homens assumem mais esse papel, sem tabus, porque nestas coisas do amor pelos filhos, não há tabus, nem convenções que falem mais alto :)

    E eu também tenho muita sorte que ele me tenha escolhido a mim :)

    Beijos, querida, muitos!

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  3. És uma mãe estrondosa e hoje curiosamente lia umas falas numa montagem do "The Help" e pensei no que é criar um filho e que apenas posso prometer que o criarei(ia) com amor incondicional e o resto tenho-te a ti para pedir umas dicas porque é uma condição de eterno work in progress. Por agora, sou apenas tio.

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  4. Marco: estragas-me com mimos, eheheh!
    É como dizes, é um work in progress e a única variante que é constante é mesmo essa: a do amor incondicional :)
    E és um tio à maneira além de que, muitas vezes, és tu que me ajudas a clarificar as ideias.
    Beijooooo. ♥ U

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  5. Irmandades??? Pois não!
    Lembro-me da história da enfermeira que também me baptizou, a mim e às outras todas. Quando chamava:
    "Mãe" virávamos todas a cabeça.
    Ser mãe não é de facto para todas. Sem qualquer tipo de arrogância, mas sim porque há mães e mãezinhas.
    Dou graças à filha maravilhosa que me calhou ter.
    E tu és 5 estrelas.
    Bjo

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  6. Luísa:
    isso, vindo de ti, é um tremendo elogio e antes que tentes refutar...eu conheço a tua filha, tá?
    Beijo :)♥

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