quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quando nos tornamos naquilo que condenamos

"The dark side", unknown photographer


"An eye for an eye will make the whole world blind."- Mahatma Gandhi.

Ontem, pelo Facebook, circulava uma foto de um homem, suspeito de violação de duas menores, assassinado e mutilado (orgãos sexuais arrancados e introduzidos na boca) pela população do local onde vivia. Com a fotografia, vinha a frase: "Se concordas que ele teve o que merecia, partilha." 
Quando li a notícia, fiquei duplamente chocada. Pelo motivo óbvio (violação e pedofilia) e pela forma como as pessoas reagiram a ela e a comentaram.

Não consigo imaginar a dor destes pais, nem as marcas fisicas e psicológicas que acompanharão estas crianças pelo resto das suas vidas. Consigo perceber o desespero e desejo de vingança. Além de ser mãe, sou também um ser humano imperfeito e não sei o que me passaria pela cabeça fazer, se tivesse que passar por algo de semelhante. Apesar de entender a desconfiança e o descrédito nas autoridades policiais e no sistema legal e juridico, não aceito que uma população se reuna para um linchamento e que não haja no meio de tanta gente, uma voz sensata que diga:"Ei, vamos lá a acalmar e a fazer isto de outra maneira." (a dinâmica de uma multidão é flixada).

No entanto, sei o que não faria: nunca optaria pelo "olho por olho, dente por dente." Não acredito que a violência resolva seja o que fôr, nem justifica o assassinio de outro ser humano, por mais baixo e desprezível que ele possa ser.
Entre pensar em fazer e fazer, há uma enorme diferença.  Num primeiro momento, quando nos entregamos à raiva, ao ódio, cegamos, perdemos a nossa humanidade, entregamo-nos aos mais baixos instintos. É natural, é a nossa reacção a uma agressão. Mas quando decidimos fazer justiça pelas próprias mãos, tornamo-nos naquilo que condenamos, somos piores que os animais, porque eles não matam por prazer, muito menos por vingança... Por isso, violência não se resolve com violência mas sim, com inteligência.

Pois, e então? Então, há que chamar à responsabilidade as autoridades competentes, o sistema judicial e penal. Porque foi a eles que nós (como cidadãos e contribuintes) designámos  esta função, e é a eles que a nossa raiva, frustração e exigências (absolutamente legítimas) devem ser comunicadas. Sempre. Constantemente. Activamente.
Se eu acho que ele teve o que merecia? Provavelmente. No entanto, não consigo regojizar-me com isso...

***

5 comentários:

  1. Ana minha querida, subscrevo cada palavra... e mais, deixaste-me sem palavras...

    revi-me, eu mesma nas tuas palavras... sinto tudo exactamente como tu...impressionante!!!

    Uma salva de palmas a pessoa que és!

    Beijinho :)

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  2. também vi essas images e fiquei chocada . é a verdade que a justiça devia de ser feita, mas de certeza que o melhor método não era aquele.

    Beijinho *

    http://desabafosdelluz.blogspot.com/

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  3. Nenhum animal é mais violente que a besta que invade uma multidão...
    Não sei de quem é mas ouvi algo parecido que "casa" bem com isto

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  4. Credo, ainda bem que não vi. Infelizmente, assim vai o mundo e as cabeças das pessoas.
    Somos todos potenciais assassinos e pela minha filha não sei que seria capaz de fazer. Mas isso,é absolutamente desprezível. O espectáculo e o regozijo, como referes.

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  5. Ecos da Alma:
    sendo assim, então uma salva de palmas também a ti :)

    @lice:
    exactamente, querida.

    Utena:
    yap, sem dúvida!

    Luísa:
    sem comentários, "siamesa" :)


    Beijinhos a todas :)♥

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