Confesso que há interpretações que me enervam...Às vezes, oiço/leio coisas como por exemplo:
"Ah, o karma é fodido", como se por detrás, estivesse alguma intenção de exercer vingança ou castigo sobre nós e/ou sobre os outros.
Karma é, nada mais, nada menos do que a consequência directa dos nossos actos, é a Lei da Física: "Acção gera reacção", é a Lei do Retorno, é a expressão física do ditado popular: "Quem semeia ventos, colhe tempestades." Não é a vida que nos castiga, ela devolve-nos o que nós lhe enviamos. Como se fosse um espelho. Pura e simples. Perceber, aceitar e corrigir os nossos erros e defeitos é certamente, a melhor forma de deixar de pensar que somos vítimas dos acontecimentos.
O conceito de almas gêmeas, visto sempre num contexto romântico.
Quem acredita em almas gêmeas tem, obrigatoriamente, que acreditar em reencarnação. E se acreditamos em reencarnação, acreditamos então que já vivemos muitas vidas, nas quais conhecemos muitas pessoas, em diferentes corpos, com diferentes sexos e até em outras condições sociais. Entendemos também que essas diversas vidas, serviram para aprender alguma coisa e de reencarnação em reencarnação, fomos fazemos um upgrade às nossas almas (costumo dizer que, aqui e agora, somos a melhor versão de nós mesmos).
Por isso, almas gêmeas, são todas aquelas que vindas do mesmo sitio, decidem reencontrar-se (por um breve ou longo período de tempo) para melhorar esse processo de aperfeiçoamento em que as duas serão beneficiadas (saldarem dívidas kármicas, corrigirem defeitos ou simplesmente, usufruirem da companhia uma outra), mesmo que os seus caminhos se voltem a separar. Assim, as nossas almas gêmeas podem ser, os nossos companheiros amorosos, os nossos pais, os nossos filhos, os nossos amigos, os nossos professores, os nossos chefes e até mesmo aqueles estranhos que às vezes se cruzam connosco na rua e do nada, nos dizem coisas importantes (que naquela altura estamos a precisar de ouvir) e pelos quais sentimos uma profunda simpatia que não sabemos explicar de onde vem.
Gurus, como alguém a quem se segue, cegamente, inquestionávelmente.
Guru não é mais do que um mestre, um professor. É alguém que transmite os seus conhecimentos de forma simples, desprovida de linguagem do Ego, humilde e com a eterna condição de também, ele mesmo, aprender. Acima de tudo, deve ser alguém que é coerente: as suas palavras estão de acordo com as suas acções. (Por exemplo, não percebo que uma mulher cite/siga um misógino como o Osho, mas isso sou eu que tenho a mania.)
Não é de todo, o ditador dos nossos pensamentos e acções, porque ele mesmo encoraja a que nos questionemos sempre e que reformulemos os nossos pensamentos e consequentemente as nossas acções. É acima de tudo, alguém que nos ajuda a crescer/evoluir e nos dá/mostra mais ferramentas para o fazer.
Regressões, como curiosidade e fait divers, em que todos querem saber se foram alguém importante no passado (figuras históricas, grandes pensadores, artistas, líderes espirituais), como se dessa forma, o esplendor ou a notabilidade do passado pudesse ser transportado para o presente e assim, elevarem-se aos olhos do outro. Talvez seja por isso que ninguém quer ter sido um anónimo.
Pressupõe também, que se acredite na existência da alma.
Deve ser utilizada sempre com o intuito de chegar ao conhecimento efectivo de alguma situação traumática no passado (que ficou "enterrada" na memória desta ou de outras vidas), com manifestações evidentes no presente e, através do processo de reconhecimento e aceitação, chegar ao tratamento dessa mesma situação.
É um trabalho sério e delicado e deve ser realizado com muita responsabilidade e entendimento das repercussões futuras da mesma.
Energias, como rótulo definitivo do carácter de cada um.
Da mesma forma que a corrente eléctrica tem flutuações, a energia pessoal também tem. Basta olhar para o que nos acontece ao longo de um dia.
E não são as flutuações (todos somos feitos de trevas e luz), que nos definem como pessoas de boas ou más energias, mas a forma como as identificamos e tratamos ou melhor, pelas escolhas que fazemos, quando as identificamos. Somos responsáveis por elas e se, conscientemente, optamos por um padrão energético específico, não podemos de forma alguma, achar que somos vitimas dele... Ou seja: se dizemos que só atraimos más energias, se calhar, está na altura de perguntar qual a razão e tentar descobri-la, em vez de nos lamuriarmos eternamente do mesmo e de a alimentarmos com os nossos queixumes.
E por último, o uso leviano e fora de contexto, da expressão
"Namasté" (já falei sobre o seu significado,
noutro post).
Está na moda, pelos vistos e há quem a utilize porque sim, mas a mim, que a aprendi, conheci, vivenciei e entranhei, num ambiente de enorme reverência e energia amorosa, ofende-me e incomoda-me que o façam (principalmente, quando ja lhes foi explicada) e a continuam a misturar, promíscuamente, com futilidades.
Em conclusão, quando se abraça a espiritualidade como uma realidade e filosofia pessoal: somos livres de acreditar no que quisermos; se optamos por acreditar em determinada coisa, temos a obrigação de a compreender e respeitar e para isso, temos um cérebro para pensar; as palavras que proferimos (depois de entendidas), devem sair do nosso coração e em sintonia com as nossas acções; os nossos actos são o reflexo do nosso carácter; somos responsáveis pelas realidades que criamos; e devemos respeitar as opções dos outros (cada um tem o seu próprio caminho) porque são, simplesmente, formas diferentes de expressar a sua espiritualidade.
Em ultima instância, nunca condenar quem opta por não acreditar.
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